sábado, 18 de fevereiro de 2017

#36 - Napoleão (1927)

Título: Napoléon
Duração: 330 minutos
Dirigido por: Abel Gance
Escrito por: Abel Gance
Produzido por: Abel Gance
Estrelado por: Albert Dieudonné, Gina Manès, Vladimir Roudenko, Annabella, Edmond van Daële, Alexandre Koubitzky, Antonin Artaud, Philippe Hériat, Abel Gance, Nicolas Koline
IMDB: 7,5
Rotten Tomatoes: 93%


     Napoleão é um épico inovador. Por cinco horas vemos Abel Gance explorar a câmera com maestria enquanto a história mais vívida e detalhada sobre Napoleão nos era contada. Um filme com uma fotografia linda, atuação impecável e com cenas que nos prendiam...até certo ponto. O filme tem seus grandes méritos, mas não se sustenta por 5 horas.
     Abel Gance nos conta a história de Napoleão desde sua infância até o seu casamento com Josephine e suas primeiras vitórias italianas. O plano inicial do diretor era fazer 6 filmes contando toda a trajetória do Imperador francês, mas faltaram recursos para os próximos.
     Todos conhecem a história de Napoleão. Um jovem soldado que aumentou seu prestígio durantes as várias batalhas que participou após a Revolução Francesa e acabou se tornando Imperador. Porém este filme nos mostra apenas a parte antes de se tornar o líder francês. Vemos ele na escola sofrendo preconceito por ser da Córsega, vemos sua presença insignificante enquanto Danton, Robespierre e Marat decidem os destinos da nascente Revolução.
     A subida de Napoleão inicia com a sua vitória em Toulon. Mais tarde ele acaba preso, coincidentemente na mesma prisão de Josephine de Beauharnais. Após a sua facção ser vitoriosa, Napoleão é solto com todas as honras e rapidamente adquire uma posição respeitável no país. Neste momento acompanhamos o apaixonado romance entre Bonaparte e Josephine, enquanto que a jovem Violine Fleuri sofre um amor não correspondido.
     O filme tem todos os méritos que já citei, mas não se garante por 5 horas. Confesso que na metade do filme já havia perdido o total interesse.

NOTA:8/10.

CURIOSIDADES:

Restaurado em 1981 após 20 anos de trabalho por Kevin Brownlow para uma versão de 235 minutos. Em 2000 Kevin Brownlow conseguiu restaurar os 330 minutos do filme (o filme original tinha 333 minutos).

Abel Gance ficou horrorizado com o pouco impacto que suas cenas causavam no formato da tela. Um novo formato foi criado especialmente  para a filmagem deste filme, chamado Polyvision, que combinava três câmeras grudadas uma a outra, para obter uma imagem maior e mais ampla. O formato seria o antecessor do widescreen.

Além de ser o primeiro filme gravado em "widescreen", foi o primeiro filme a conter uma trilha sonora (o filme era mudo, a trilha sonora era tocada por uma orquestra na sala de cinema).

Abel Gance dirigiu, escreveu, produziu e atuou no filme.

PRÓXIMO: O Caçula...o primeiro filme de comédia da lista estrelado por Harold Lloyd.

domingo, 12 de fevereiro de 2017

#35 - O Cantor de Jazz (1927)

Título: The Jazz Singer
Duração: 88 minutos
Dirigido por: Alan Crosland
Escrito por: Alfred A. Cohn
Produzido por: Darryl F. Zanuck
Estrelado por: Al Jolson, May McAvoy, Warner Oland, Eugenie Besserer, Otto Lederer
IMDB: 6,8
Rotten Tomatoes: 74%

     Esperem um minuto! Esperem um minuto! Vocês ainda não ouviram nada! O Cantor de Jazz, o primeiro filme falado, aquele que abriu as portas para um novo cinema. É difícil analisa-lo apenas como um filme e não como um marco. É difícil se concentrar na história enquanto você ouve as primeiras palavras jamais ditas no cinema, e obviamente ainda existe toda a polêmica sobre o racismo. Para simplificar a minha tarefa irei dividir esta crítica em três: a história, o som e o racismo.
     Primeiramente vamos a história. Um Cantor judeu (Cantor é uma sagrada profissão religiosa para os judeus, é aquele que tem a honra de cantar os hinos sagrados) treina o seu filho para seguir os seus passos, mas o jovem menino tem o jazz em seu coração. Na infância o pai descobre que seu filho está cantando em um salão de jazz e o retira raivosamente de lá. Uma discussão acontece e o jovem Jakie Rabinowitz sai de casa enquanto que seu pai diz para sua mãe: "nós não temos mais um filho".
     Os anos passam e após conhecer a linda Mary Dale, as portas da Broadway se abrem para o cantor de jazz, agora chamado de Jack Robin. Quando ele chega a Nova York para seu novo espetáculo, ele decide visitar a casa de seus velhos pais. A mãe chora ao vê-lo e emocionado ouve seu filho tocar um jazz no piano. Quando o velho Cantor Rabinowitz ouve isto, grita e novamente discute com seu filho.
     Para encurtar o resto da história, o velho Cantor fica doente na véspera do Yom Kippur, a mais sagrada data judaica. O último desejo, e a única esperança de que se recupere, é ouvir o seu filho cantar o sagrado Kol Nidre. O maior problema: a grande estreia da peça de Jack na Broadway é exatamente no dia do Yom Kippur.
     Como podem ver, a história é interessante, mas fraca comparada a outras que vimos antes. Não seria de grande destaque se não fosse o primeiro filme falado, provavelmente. Vamos agora a segunda, e mais importante, parte da crítica.
     O filme não é 100% falado. A introdução do som se limita a algumas músicas que Jack canta e a alguns raros diálogos. Uma boa parte do filme é muda, contando com os característicos intertítulos. Mas as cenas de voz são emocionantes. Tente se colocar no lugar de alguém em 1927. Ouvir uma voz saindo de um filme, deve ter sido a sensação mais impossível na cabeça de muitos.
     E por último a parte mais polêmica do filme, o seu racismo. E a minha opinião talvez seja tão polêmica quanto, eu não acho que este filme seja racista. Antes que me crucifiquem deixem eu explicar. Este filme não é como O Nascimento de Uma Nação, que exalta e glorifica o racismo. Este filme mostra um ator de teatro usando blackface, uma prática racista.
     Seria o mesmo que dizer que um filme sobre escravidão é racista por mostrar negros escravo de brancos. Ele representa uma situação racista. Se o filme mostrasse um branco com blackface atuando como um negro, eu acharia racista. Mas ele mostra este blackface dentro de uma peça. Acho que dá para entender meu ponto, mas estou aberto a correções e/ou críticas.

NOTA: 8,0/10. Provavelmente devido a ser o primeiro filme falado apenas.

CURIOSIDADES:

A frase "Wait a minute, wait a minute. You ain't heard nothing yet" é considerada a 71° frase mais famosa da história pela AFI.

Myrna Loy teve um papel não creditado em uma pequena cena.

O primeiro musical da história!

CITAÇÕES:

"Wait a minute, wait a minute. You ain't heard nothing yet"

"Leave my house. I never want to see you again, you Jazz singer!"

"We in the show business have our religion too - on every day, the show must go on! "

PRÓXIMO: Napoleão... um filme mudo de 5 horas de Abel Gance sobre Napoleão.

sábado, 11 de fevereiro de 2017

#34 - Outubro (1927)

Título: Oktyabr
Duração: 103 minutos
Dirigido por: Sergei Eisenstein
Escrito por: Grigori Aleksandrov, Sergei Eisenstein
Produzido por: Sergei Eisenstein
Estrelado por: Layaschenko, Vasili Nikandrov, Nikolay Popov
IMDB: 7,5
Rotten Tomatoes: 88%


     Confuso. Chato. São as primeiras palavras que Outubro me traz a cabeça. E extremamente decepcionante. Após Eisenstein nos entregar o envolvente Potemkin, eu esperava no mínimo um filme decente.
     Este é um filme sobre a Revolução Russa, contando sobre o início e o fim do Governo Provisório. Porém se isto não estivesse escrito no sumário eu poderia não ter percebido. O filme é confuso, impossível de acompanhar. Ele foi encomendado pela liderança soviética para comemorar os 10 anos da revolução, mas é dito que nem mesmo Stalin conseguiu entender a história do filme!
     Outra coisa que me irritou muito no filme foram as estátuas. Nas primeiras duas ou três vezes em que a cena foi cortada para mostrar uma estátua, eu pensei "o filme pode ser ruim mas a direção de Eisenstein não decepciona". Mas depois de dez ou quinze cenas cortadas para mostrar uma estátua, isto se tornou um tanto desconfortável e repetitivo.
     Eu não vou me detalhar na história porque é apenas isto: um relato confuso sobre a Revolução Russa. Não temos personagens principais (uma das reclamações de Stalin, o próprio Lenin apareceu por não mais que 5 minutos na tela). Não temos nada para se apegar durante o filme.
     Eu consegui sentir emoção no filme apenas em uma cena, onde a ponte lentamente se levanta enquanto o corpo de uma mulher jaz inerte. Com o seu cabelo lentamente caindo, uma cena simples mas, ao contrário do resto do filme, emociona.
     Mas obviamente existem aqueles que amam o filme e o consideram fabuloso. Vsevolod Pudovkin, outro diretor soviético, comentou sobre Eisenstein e Outubro: "Como eu gostaria de produzir um fracasso tão poderoso!"

NOTA: 2/10. Talvez o pior filme que eu assisti na lista até agora.

CURIOSIDADES:

Eisenstein teve que editar todas as cenas que se referiam a Trotsky, após sua recente purga.

A filmagem no Palácio de Inverno contou com 11 mil figurantes e a luz necessária para a filmagem deixou o resto da cidade no escuro.

Mais pessoas se feriram na gravação das cenas no Palácio de Inverno do que no real assalto Bolchevique.

PRÓXIMO: O Cantor de Jazz... o primeiro filme falado da lista.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

#33 - O Monstro do Circo (1927)

Título: The Unknown
Duração: 63 minutos
Dirigido por: Tod Browning
Escrito por: Waldemar Young
Produzido por: Irving G. Thalberg
Estrelado por: Lon Chaney, Joan Crawford, Norman Kerry, John George
IMDB: 7,9
Rotten Tomatoes: 100%


     O Monstro do Circo é uma obra brilhante, nos conseguindo envolver e nos prender com uma história cheia de ironia e tragédias. Lon Chaney nos presenteia com outra atuação impecável e verdadeira, com a ainda jovem Joan Crawford fazendo jus ao futuro status de estrela.
     A trama começa em um circo, onde Lon Chaney interpreta Alonzo, um homem sem braços. Ele e seu parceiro Cojo escondem de todos que, na verdade, o homem sem braços esconde dois braços normais sob sua roupa. O único defeito de seus braços é que uma das mãos tem dois polegares. Alonzo é apaixonado pela filha do dono do circo, a inocente jovem Nanon.
     Nanon se aproxima de Alonzo porque tem medo de... braços. Enquanto isso Malabar, o homem forte do circo, também é apaixonado pela jovem. Quando Malabar pede conselhos ao amigo de Nanon, ou seja, Alonzo, ele lhe aconselha a abraça-la. Obviamente o conselho vai muito mal e o "sem-braços" se aproxima ainda mais de sua paixão.
     Um dia o dono do circo descobre os braços de Alonzo. Ele na realidade é um criminoso que usa o disfarce para esconder sua marca característica: os dois polegares. Em uma briga o dono do circo acaba morrendo, e a única coisa que Nanon consegue ver do assassino de seu pai é justamente o braço com dois polegares.
     Com a morte de seu dono o circo fecha e a maioria se separa. Alonzo, Nanon, Cojo e Malabar porém se mudam para mesma cidade. Nanon beija o rosto de Alonzo e este vê que quanto mais próximo ele ficar de sua amada, mais distante ficará dela por causa de seu braço e seus dois polegares.
     Desesperado, Alonzo toma a decisão de procurar um médico. Ele se submete a uma cirurgia e amputa os dois braços. Depois de algumas semanas se recuperando, ele volta para Nanon, esperando o momento em que os dois ficarão juntos. Mas quando retorna, a sua amada o convida para seu casamento com Malabar, contando que perdeu o medo de braços e agora os ama. Alonzo então traça um plano para deixar o seu rival sem braços também, mas o final deixarei para vocês assistirem.

NOTA: 9,5/10. Um ótimo e intrigante filme, realmente nos prende e as atuações são impecáveis.

CURIOSIDADES:

Joan Crawford disse mais tarde em sua carreira que aprendeu mais neste filme com Lon Chaney do que com qualquer outra pessoa. "Ele me ensinou a diferença entre ficar parado na frente de uma câmera e atuar na frente de uma câmera".

O filme foi considerado perdido por muitos anos, pois nos estúdios várias fitas tinham o nome de Unknown (desconhecido).

Baseado em uma história real. (Sério???)

CITAÇÕES:

"No one will get her... no one but me! "

"You are the one man I can come to without fear. "

"There is a time for fear, Nanon... and a time for hate... and a time for love. "

PRÓXIMO: Outubro... o terceiro filme de propagando comunista feito por Eisenstein.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

#32 - A General (1927)

Título: The General
Duração: 75 minutos
Dirigido por: Buster Keaton
Escrito por: Clyde Bruckman, Jean Havez, Joseph A. Mitchell
Produzido por: Joseph M. Schenck, Buster Keaton
Estrelado por: Buster Keaton, Marion Mack
IMDB: 8,2
Rotten Tomatoes: 93%


     A General é mais um divertidíssimo filme de Buster Keaton, talvez o melhor dele até agora. Em A General ele explora novamente a mistura entre situações engraçadas/improváveis, acrobacias e cenas espetaculares para a época.
     A história nos mostra um maquinista em plena Guerra Civil a quem não dão permissão para se alistar pois é mais útil cuidando dos trens. A sua noiva e a família dela rompem com o rapaz, o considerando um covarde por fugir da guerra.
     Passado um ano, Johnnie Gray vê suas duas paixões serem raptadas pelo exército inimigo. A General, "sua" amada trem, e a sua antiga noiva. Ele toma o controle de um outro trem e sozinho persegue os raptores.
     Buster Keaton se mistura nos inimigos e consegue se aproximar da sequestrada Annabelle Lee. Os dois conseguem fugir e tomar o controle da General, com o exército inimigo perseguindo-os agora. O mesmo trajeto e, praticamente, os mesmos obstáculos que foram enfrentados por nosso herói na ida, são enfrentados pelo exército inimigo na volta.
     Perto do final do filme temos a cena mais espetacular do filme e talvez de todo o cinema mudo. Para gravar a explosão de uma ponte e um trem despencando das chamas em direção ao rio que corre embaixo, o ambicioso comediante usou uma ponte real e um trem real. Ou seja, todo aquele acidente que vimos na tela, realmente "aconteceu". Imaginem a logística de destruir uma locomotiva e uma ponte apenas para gravar um filme em plena década de 20?
     A General consegue ser uma das mais engraçadas comédias de Keaton, com Marion Mack interpretando a talvez mais consistente companheira feminina dele até agora.

NOTA: 9/10. Uma ótima comédia, levemente melhor que Sete Oportunidades e tão engraçada quanto Nossa Hospitalidade.

CURIOSIDADES:

A estreia do filme em Nova York foi adiada em semanas devido ao grande sucesso de "A Carne e O Diabo", filme estrelado pelas estrelas John Gilbert e Greta Garbo. O filme, que não está na lista (porém assistirei ele logo), foi um sucesso de bilheteria. Quando A General lançou após ele, as críticas foram pouco positivas. Nas palavras da Variety: "after four weeks of record business with Flesh and the Devil , looks as though it were virtually going to starve to death this week"

O filme custou 750.000 e rendeu cerca de 1.000.000. O resultado foi pouco expressivo considerando os outros trabalhos de Buster Keaton. Após este filme ser pouco lucrativo a MGM limitou a criatividade do diretor.

O filme favorito de Buster Keaton.

18° Melhor filme pela AFI.

A cena do acidente da locomotiva é a cena mais cara de todos os filmes mudos.

CITAÇÕES:

"There were two loves in his life: his engine and... "

"-Did Johnnie enlist?
-He didn't even get in line.
-He's a disgrace to the South."

PRÓXIMO: O Monstro do Circo...outro filme estrelado por Lon Chaney, espero que seja tão bom quanto o anterior.